Óculos Juliet? Ray-Ban Wayfarer? Cinco modelos de óculos que marcaram épocas, tribos e estilos

Óculos Juliet? Ray-Ban Wayfarer? Cinco modelos de óculos que marcaram épocas, tribos e estilos

A Vízia tá on…

Começamos o artigo de hoje parafraseando o Neymar, atual jogador do Paris Saint Germain e grande marca do mundo da bola, para mostrar que alguns termos marcam tanto uma geração que, quando mencionados, remetem nossa memória diretamente à uma lembrança, pessoa ou estilo. Contudo, isso não acontece apenas com expressões, mas basicamente com tudo que nos cerca: músicas, filmes, propagandas, roupas, sapatos e acessórios. Por isso, hoje estamos aqui para falar de alguns modelos de óculos que marcaram épocas, tribos e estilos, como foi o caso dos óculos juliet, ray-ban wayfarer e muitos outros.

Mas, antes de qualquer coisa, precisamos entender como tudo começou…

História e evolução dos óculos

Por incrível que pareça, os óculos não foram criados por questões de saúde. No início, os óculos serviam apenas como acessórios para quem os portasse. Os primeiros registros do objeto datam da era pré-cristã, em meados de 500 a.C, mas foi apenas na Idade Média que eles começaram a ser utilizados como forma de enxergar melhor.

Foi nessa época, por volta de 1270, que os primeiros óculos, como conhecemos hoje, surgiram. Por meio da definição das leis fundamentais da óptica, o matemático árabe Al-Hazen conseguiu aperfeiçoar a técnica de fabricação das lentes permitindo que elas auxiliassem na leitura. Nessa época, as lentes funcionavam quase como lupas, bem frequentes em mosteiros, por exemplo, onde pedras preciosas como o berilo e o quartzo eram lapidadas e polidas para auxiliar os monges na leitura de seus textos, óculos que ficaram conhecidos como “pedra-de-leitura”.

As armações, por sua vez, eram feitas de ferro e ainda não tinham as hastes para segurar o objeto apoiado nas orelhas. Foi apenas no século XVII que elas surgiram. Já as lentes corretivas só auxiliavam pessoas com problemas de visão como presbiopia e hipermetropia. Foi em 1441 que surgiram as primeiras lentes para pessoas míopes. As lentes bifocais vieram em seguida, em 1785. Pessoas com astigmatismo, entretanto, tiveram que esperar até 1827 para conseguir usar óculos que as auxiliassem com o problema de visão.

Até então, por servirem como esse “objeto de beleza” antes do aperfeiçoamento das lentes, os óculos também eram uma forma de divisão na sociedade, tendo em visto que apenas as pessoas mais ricas tinham os recursos necessários para adquiri-los. Algo que será importante para entendermos como, apesar do passar dos anos, a evolução dos modelos de óculos seguiram essa mesma lógica até de fato se popularizarem.

Anos 1880

Como comentamos, demorou um pouquinho até a evolução dos óculos chegar à criação das hastes de apoio que conhecemos hoje. Até este momento, os modelos de óculos eram unissex, afinal não haviam muitas opções, e conhecidos pelo nome de “pince-nez”, nome que deriva do francês e significa, em tradução literal, “pinçar o nariz”, ou seja, eram apenas apoiados no nariz de quem os portava.

Esses óculos ainda podem ser vistos em museus, acervos de época, lojas de antiguidade, mas sobretudo na ficção. Em filmes de época vemos muito esses modelos sendo retratados, assim como o próximo que vamos comentar.

Os óculos de ópera

Ao assistir alguns filmes você provavelmente já reparou nos óculos que os personagens utilizam para ver peças de teatro e, principalmente, óperas. Então, foi justamente nessa época que as hastes começaram a surgir, mas no caso dos óculos lorgnette era apenas uma haste lateral, fazendo com que quem o quisesse portar precisasse ficar segurando os óculos por ela.

Lembram do que falamos sobre os óculos servirem como uma representação da divisão de classes na sociedade? Pois é, esse modelo é um exemplo claro do que falamos. Afinal, óperas eram lugares “reservados”, nos quais nem todo mundo podia entrar, apenas famílias providas de recursos e poder. Alguns modelos eram até mesmo confeccionados com pedras e materiais preciosos, pois quanto mais enfeitados eram os óculos, maior era a relevância da pessoa que os portava para a sociedade.

1 – Óculos geométricos

Com o passar dos anos, novas técnicas foram descobertas e os óculos começaram a se popularizar. Na década de 1960 isso já vinha acontecendo há bastante tempo, então as armações já eram vistas em praticamente todos os rostos.

Nessa época, com toda essa evolução, eles já não eram mais só acessórios, mas tampouco eram apenas objetos úteis para que fosse possível enxergar melhor. Agora os óculos eram uma junção das duas coisas. Por isso, as empresas produtoras das armações já estavam de olho na evolução da moda e nas tendências que surgiam a cada período de tempo.

Nas décadas de 1960 e 1970 a vibe do momento era “paz e amor”, acompanhando justamente a tendência do movimento hippie. Os óculos, então, eram grandes e em formatos geométricos, estilo conhecido como bug eye. As cores também eram elementos importantes das armações, acompanhando a juventude hippie.

2 – Óculos wrap around

A tendência da década seguinte, 1980, ia totalmente ao contrário do “menos é mais”. Com armações de óculos grandes, muitas cores e contornos, a época ficou conhecida pelos exageros na moda. Tudo tinha que ser “muito”: cortes de cabelo pesados, muita maquiagem e roupas que mesclavam diversos estilos e texturas.

Os modelos de óculos que marcaram a época foram os que seguiam o estilo wrap around, ou seja, armações que contornavam bem os rostos e, de certa forma, se encaixavam a ele. Nessa época, também era muito comum ver óculos bem coloridos pelas ruas, algo que, como veremos, voltou a ser tendência tempos depois.

3 – As tendências dos anos 2000

Seguindo o embalo dos anos 1980, e a rebeldia e atitude grunge dos anos 1990, os anos 2000 continuaram sendo marcados pela extravagância. Popstars como Justin Timberlake, Paris Hilton, Britney Spears e ninguém mais, ninguém menos, que Beyoncé aderiram à moda da época e se jogaram nos óculos oversized com lentes coloridas, espelhadas, em degradê e com detalhes em strass nas armações.

Muito era sempre a melhor pedida e, como bem sabemos, a moda adora se inspirar no que já foi tendência para trazer de volta às passarelas. Quem diria que os óculos chamativos dos anos 2000 hoje seriam considerados vintage, né? Ícones da moda como Kim Kardashian e Bella Hadid já estão atentas a essa reviravolta da moda e têm usado armações comuns nos anos 2000 na composição de seus looks.

4 – Ray-Ban Wayfarer

Criado em 1956, o ray-ban wayfarer é um verdadeiro clássico atemporal. Assim como outros modelos da marca, os óculos continuam fazendo sucesso até hoje e são quase como uma aposta certeira na hora de montar o look. Mas, se engana quem pensa que sempre foi assim.

Os óculos wayfarer foram inspirados em carros da época que tinham a chamada traseira “rabo-de-peixe” e revolucionaram a produção dos óculos por serem os primeiros com a armação produzida em acetato, muito mais leves e confortáveis do que vinha sendo produzido até o momento. O modelo surgiu na época que o rock e o pop estavam em ascensão e logo se tornou o queridinho de celebridades como Bob Dylan, Marilyn Monroe e Audrey Hepburn (que também ficou conhecida pela febre dos óculos gatinho depois de estrelar o filme Bonequinha de Luxo).

Contudo, a Ray-Ban estava prestes a descontinuar sua produção nos anos 1980, devido a um rombo nas vendas pelo crescimento exponencial de outros modelos. Foi então que em 1983 o filme “Negócio Arriscado” foi lançado, estrelado por Tom Cruise que usou o modelo wayfarer em algumas cenas do longa-metragem. Com isso, as vendas dos óculos voltaram a disparar e o resto é história.

Uma derivação do ray-ban wayfarer clássico também fez muito sucesso na década de 1950, quando foi lançado: o estilo browline. Usado por personalidades como Malcolm X, grande ativista do movimento negro dos Estados Unidos, seu diferencial está na parte superior da armação mais marcada, lembrando o formato de uma sobrancelha.

Em meados de 2010 os óculos voltaram a fazer sucesso, principalmente entre o público adolescente/jovem-adulto. Isso se deu novamente pelo interesse da moda, e dos jovens, em olhar para o que era tendência no passado e retomá-la como algo retrô e cool. Na época, personalidades do cinema como Robert Pattinson, e da música como Katy Perry aderiram ao movimento. Mas, ele também chegou de um jeito peculiar aqui no Brasil…

Modelos coloridos

Quem se lembra da febre emo no Brasil? Pois é, nós da Vízia lembramos muito bem, era dia sim e outro também vendendo as variações coloridas de modelos wayfarer. Na época, bandas como Restart, Cine, Hori, Fresno e NX Zero estavam no auge do sucesso e, de certa forma inspirados pelo sucesso que o ray-ban wayfarer fez entre as bandas de rock, fizeram sua própria versão do estilo ao usar armações coloridas.

Na época as opiniões eram bem divididas. Alguns amavam a tendência e a cada nova armação colorida lançada, faziam questão de ir até uma óptica adquirir a sua, e sabiam todas as letras das músicas e acompanhavam os músicos em todas suas empreitadas, até mesmo nas calças coloridas (outra tendência da época).

Já outra parte da geração achava tudo uma grande brincadeira e preferia manter seu próprio estilo ao invés de seguir as tendências ditadas por essas bandas. Independentemente do lado em que você estava na época, o fato é que as armações coloridas foram um grande sucesso e hoje há quem olhe para sua fase emo com grande saudosismo. Será que o futuro nos reserva uma nova onda de óculos wayfarer coloridos?

Ray-Ban Clubmaster

Outro clássico da marca foi o ray-ban clubmaster, um modelo bem semelhante ao wayfarer, mas com o estilo browline que comentamos anteriormente. O modelo foi criado na década de 1950 também e, assim como seu antecessor, também se popularizou por meio de um filme na década de 1980: “Curtindo a Vida Adoidado”.

A produção conta a história de um adolescente, Ferris Bueller, que decide matar um dia de aula e convida sua namorada e seu melhor amigo para uma aventura em Chicago (EUA). Como vocês podem imaginar, o personagem utilizava o modelo clubmaster em algumas cenas e isso foi o suficiente para os óculos se popularizarem.

Por volta de 2015 o ray-ban clubmaster também voltou a fazer sucesso e, assim como outros modelos da marca, continua sendo um queridinho de quem aposta nos clássicos.

5 – Óculos Juliet

Quer mais um exemplo de que a moda é cíclica? Então dá uma olhada nesse modelo aqui: os óculos juliet.

O modelo foi criado na década de 1990 pela marca Oakley, conhecida pelos seus óculos esportivos e suas armações feitas em materiais bem resistentes. Mais precisamente em 1997 a marca divulgou seu novo lançamento, a linha X-Metal com armações, como o próprio nome já indica, em um material metálico especial, obtido pela fusão do alumínio com outro material chamado “o-matter”. Além disso, os modelos da linha ficaram marcados por suas lentes de reflexo.

Em 1999 a Oakley lançou então o Juliet, o novo modelo da linha. Muitos não sabem, mas apesar dos óculos juliet terem se popularizado por esse nome, na verdade eles se chamam Juliet e Romeo, fazendo referência à clássica história de romance/drama de Shakespeare, Romeu e Julieta. Nos Estados Unidos o modelo se tornou febre por ser o queridinho de um grande nome da NBA, liga de basquete do país: Michael Jordan, mas também se popularizou após aparecer em cenas de um filme, no caso o clássico “Missão Impossível” estrelado por Tom Cruise na década de 2000.

Para tristeza dos fãs, a produção da linha X-Metal foi descontinuada em 2012, tendo os últimos óculos juliet sido produzidos alguns anos antes, em 2009. Mas, com o sucesso do modelo, a Oakley relançou uma edição limitada dos óculos juliet em parceria com outro astro da NBA, Damian Lillard, em 2021. No total foram 14 exemplares com armações produzidas em titânio, que infelizmente não chegaram a vir para o Brasil, custando em média 14 mil dólares. Os óculos foram autografados pelo atleta do Portland Trail Blazers, e de um antigo companheiro de quadras de Michal Jordan no Chicago Bulls, Scottie Pippen, além de acompanharem uma caixa personalizada e um livreto comemorativo.

A marca aproveitou o lançamento para doar 140 mil dólares para o programa Respect, fundado por Lillard para auxiliar alunos do ensino médio dentro e fora das salas de aula.

O sucesso do modelo no Brasil

Se nos Estados Unidos os óculos juliet foram febre entre os atletas, em solo brasileiro eles se popularizaram no meio musical, mais especificamente entre os funkeiros. Com a criação e disseminação do funk ostentação, músicas falando sobre a utilização do modelo começaram a se tornar bem comuns, como “Juliet No Rosto”, do Mc Neguinho, e “Juliet Tá Na Cara”, do Menorzinho MC.

Mas você deve estar se perguntando porque isso aconteceu… Bem, com a descontinuação da produção de novos modelos, óculos juliet se tornaram peças raras e exclusivas, custando em média R$1 mil, ou seja, ter um modelo original da marca Oakley é sinônimo de status. Tudo a ver com o estilo musical da ostentação, né? O modelo se tornou um must have nas periferias, mas também entre os entusiastas do estilo musical, voltando inclusive para os esportes com grandes nomes como Neymar utilizando o modelo.

Inclusive, a frase/meme do jogador que se popularizou no ano passado: “o pai tá on”, surgiu justamente de publicações no twitter de Neymar, nas quais ele falava que estava se preparando para um grande jogo do Paris Saint Germain, clube de Paris onde joga atualmente, com seu moicano, seus óculos Juliet e sua caixinha de som.

Crédito: Reprodução/Instagram @neymarjr

Por falar em Juliet(te)…

Com essas publicações em sua rede social Neymar despertou o interesse de outra celebridade que vem ditando tendências, a campeã do Big Brother Brasil 2021, Juliette. Em uma interação pelo Twitter, o jogador prometeu que daria um modelo juliet para ela e a promessa foi cumprida em julho de 2021.

Crédito: Reprodução/Instagram @neymarjr

Mas, o que queremos comentar aqui é sobre outro modelo de óculos que virou tendência pela influência de Juliette, os de armação redonda. Durante o programa, a paraibana utilizou uma armação oversized com aro em metal que acabou se tornando sua marca registrada.

Armações redondas remontam desde o surgimento dos primeiros óculos e vêm se atualizando com o passar das décadas, mas foi nos anos 1970 que a moda aderiu aos modelos maiores, como os que Juliette usou durante o BBB.

A sister foi até comparada a alguns nomes da cultura pop como o músico John Lennon, o personagem Harry Potter e até mesmo o Galinho Chicken Little. Isso foi muito bem aproveitado pelos fãs da campeã e até mesmo por sua equipe nas redes sociais, com fanarts e memes. O fato é que os óculos se tornaram parte de sua marca pessoal e a busca pelos “óculos da Juliette” só aumentaram.

Com sua vitória no BBB muitas coisas mudaram, inclusive a variedade de armações utilizadas pela campeã. De qualquer forma, Juliette faz parte do grupo de pessoas que cria tendências de moda e, se você gosta desse universo, vale ficar de olho no que ela faz.

Deixe um Comentário

Your email address will not be published.